sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Governistas reagem à denúncia contra Temer com críticas a Janot

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Parlamentares da base governista reagiram à nova denúncia contra o presidente Michel Temer com críticas ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Temer foi denunciado nesta quinta-feira (14) pelos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa. Além do presidente, a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou acusações contra a cúpula do PMDB na Câmara, entre eles estão os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral), e os ex-ministros Henrique Alves e Geddel Vieira Lima, além do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Fiel escudeiro de Temer no Congresso, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) classificou a denúncia como "vazia e requentada", uma "ação politica, tresloucada e corporativista" e que "usa coisas que pretensamente foram feitas antes de Michel ser presidente".

"É um ato desesperado de um procurador que se perdeu completamente por razões políticas. Tomara Deus que não por razões pecuniárias", afirmou Perondi.

Para o governista, esta segunda denúncia já era esperada pela Câmara e, por isso, não causa surpresa. Ele aponta também o enfraquecimento de Janot.

"O enfraquecimento do Janot a partir do seu choro ingênuo e puro na segunda-feira retrasada explodiu com a imagem já comprometida da PGR dentro da Casa", afirmou.

O deputado Beto Mansur (PRB-SP) afirmou que seria de "bom tom" que a futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitasse a revisão da denúncia feita por Janot.

"A doutora Raquel Dodge, que vai assumir já na segunda-feira, pode inclusive pedir de volta esta denúncia que foi formulada pelo procurador Janot. Ela vai tocar esse processo. Seria de bom tom ela pedir de volta todos esses processos, nesta última semana, para reanalisar com muita imparcialidade", disse.

Mansur afirmou que há "uma ânsia muito grande" de Janot e da equipe para "colocar as denúncias para fora da Procuradoria" antes da mudança no comando do órgão. Ele defendeu que as denúncias baseada em gravações da JBS fiquem paralisadas.

O parlamentar disse ainda que Temer está sereno e vai se defender das questões que, segundo ele, não são verídicas.

O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), também pondera que, apesar do enfraquecimento da PGR, a base governista apresenta fissuras.

"Da outra vez você só tinha a tese da acusação. Agora, você tem a tese da defesa fortalecida por essas trabalhadas dos Batistas. Por outro lado, você tem ainda uma base que não está tão coesa, como da primeira vez, e apresenta algumas fragilidades. É preciso rearrumar a base", disse o líder.

Líder de uma bancada de 38 deputados, Marcos Montes (PSD-MG) elenca dois fatores que equilibram o impacto da denúncia no Câmara.

Para ele, se, por um lado, o governo perde porque houve um descolamento entre a situação econômica e política do país, por outro, a PGR está enfraquecida, o que tira um pouco o peso da denúncia.

"Na primeira [denúncia], podia ser um desastre para o mercado. Hoje, não sei qual o reflexo da saída dele [Temer] para o mercado. É uma situação diferente. Se o Ministério Público não estivesse enfraquecido, o momento seria pior [para o governo]. O que equilibra é o Ministério Público desajustado. Isso que enfraquece um pouco. Se não tivesse tido nada do Ministério Público, seria uma denúncia mais pesada", disse Marcos Montes.

SENADO
O líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), foi na mesma linha de ataque a Janot, afirmando que ele deveria ter deixado a denúncia a cargo de Dodge.

"Eu considero que o procurador-geral da República, embora tenha poderes para apresentar as denúncias, na verdade, está atuando de uma forma um tanto quanto açodada ou até inoportuna, já que eles está em final de mandato e não terá como dar sequência ou acompanhar os fatos a partir de sua substituição da PGR", disse.

Para ele, o caso deveria ficar a cargo de Dodge, que assume a chefia do Ministério Público na próxima segunda-feira (18). "Ele não só atirou a última flecha como quebrou o arco", disse, em referência à declaração dada por Janot em julho, quando disse que "enquanto houver bambu, lá vai flecha", sobre envio de denúncias.

Sobre a autorização da Câmara para que a denúncia tenha prosseguimento, Bauer acredita que a nova acusação será barrada com ainda mais facilidade desta vez.

"Tendo em vista a votação anterior, eu tenho mutia convicção que a votação se repete e possivelmente aumenta em favor do presidente", disse.

Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), ainda é necessário avaliar o conteúdo da denúncia para verificar se há uma prova irrefutável. "Não sei qual é a prova realmente, se é irrefutável ou se é apenas aquilo que já se sabia", disse.

O senador também avalia que a base do governo está "mais fragilizada" do que na época da votação da primeira denúncia, ao ser questionado sobre o possível resultado de uma nova votação na Câmara dos Deputados.

"Já tem muito mais desgaste dentro das lideranças do governo com parlamentares, muitos que achavam que seriam acolhidos de uma forma melhor... É uma análise da Câmara a distância, já que estou no Senado", disse.

O presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia (RN), afirmou não ter conhecimento do conteúdo jurídico da denúncia para fazer avaliações. "Vou me reservar o direito de conhecer melhor o conteúdo para tomar uma opinião", disse, defendendo que a denúncia deve ser analisada do ponto de vista jurídico e não político.

O senador -também denunciado por Janot nesta semana- admite, contudo, que uma nova acusação contra Temer terá impacto no calendário de votações no Congresso, sobretudo da reforma política, que precisa ser aprovada até outubro para ter validade para as eleições do ano que vem.

"É claro que esse fato novo cria dificuldades ao andamento normal da pauta da Câmara, sobretudo da reforma política, que já era exíguo", disse.

Assim como na primeira denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República, a nova acusação formal será submetida à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, para que ela emita parecer.

Após isso, há a votação em plenário. É preciso o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados para que o Supremo Tribunal Federal seja autorizado a processar Temer. Nesse caso, o presidente da República é afastado do cargo.

por DANIEL CARVALHO, LAÍS ALEGRETTI, RANIER BRAGON E TALITA FERNANDES
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